Henrique Ziller
Já se passaram alguns anos desde que,
pela primeira vez, afirmei que o modelo de governabilidade adotado em nosso
País gera desgoverno. Ou seja, quanto mais se loteia a máquina pública, menos é
possível governar. A despeito de que isso se torna a cada dia mais claro,
repete-se o mantra: se não for assim, não é possível governar. Chegamos no
Brasil a um círculo vicioso infinito: sem lotear o Governo não se governa, com
o loteamento, também não se governa.
O mantra de que só a reforma política
pode trazer uma saída também entra para a roda do impossível interminável: com
esse modelo de governabilidade não é possível fazer reforma política.
O último a sair apaga a luz?
Lula tinha apoio popular suficiente
para romper com esse modelo, mas preferiu não fazê-lo. Agora, talvez uma
solução inovadora possa surgir, visto que Dilma está em seu último mandato e
pode se ver tão sem saída que apele para alguma coisa nova – particularmente
porque com o PMDB na oposição, como se vê a cada dia, seu mandato que nem
começou está acabando.
Talvez seja a síndrome de FHC, que
obteve seu o segundo mandato mediante procedimentos nada republicanos para
aprovar da PEC que permitiu sua reeleição, e não conseguiu sair do lugar. Dilma
também forçou demais a barra com uma campanha eleitoral cuja legitimidade está
para lá de duvidosa, e parece que terá o mesmo destino. A não ser que alguém
seja capaz de liderar uma saída inovadora.
Temos cinco líderes no País que
deveriam conversar nesse momento, e negociar: Lula, Dilma, FHC, Aécio e Marina.
Deixe-me sonhar alto, ou, sonhar
escrevendo: esses atores forjam um realinhamento das forças históricas da
esquerda em torno de um novo modelo de governabilidade erigido sobre um pacto
anticorrupção. PT, PSDB, PDT, PSB, PPS, PC do B, e, quem sabe, algum naco do
PMDB – faço essa concessão diante da lembrança da figura impoluta de um certo
Pedro Simon… Do outro lado se alinham as demais forças políticas.
Não podemos nos iludir: não existe
uma base zero sobre a qual possamos erigir algo novo. Não existe um estoque de
políticos “diferentes”, sem qualquer mancha em seu passado, que possa ser
convocado a assumir o País. Reconstrução se faz a partir das ruínas do antigo.
A nova política, que ninguém sabe exatamente o que seja, não é uma política
nova feita por políticos novos. Trata-se, em grande parte, dos mesmos políticos
fazendo algo diferente, inovador.
Obviamente, um Poder Judiciário
atuante e independente ajuda bastante a extirpar o que de pior está colocado na
cena política de hoje. Mas, uma reconstrução necessariamente envolveria uma
grande maioria de políticos que já está plenamente atuante hoje, com todas as
suas idiossincrasias.
É hora de ousar. Creio que seja uma
atitude mais lúcida do que continuarmos devotos deste modelo de governabilidade
pela via da corrupção. (Publicado em Todos os posts por Ziller. Marque Link Permanente).
Arthur Massuda, Henrique Ziller e Sélio
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