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segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Uma caminhada quixotesca, com grande vitória


Caros colegas

Depois de atuar 4 anos como vereador, meus concidadãos me elegerão prefeito. Tomarei posse no dia 1º de janeiro.

Penso conveniente e oportuno fazer alguns registros.

Primeiro, me elegi vereador contra a corrente. Sem fingir que vereador pode fazer o que cabe ao executivo fazer; sem insinuar favores e sem distribuir promessas. Mais importante: elegi-me sem apoio de nenhum grupo político tradicional, empresário ou igreja.

Foi uma caminhada quixotesca. Só não foi completamente solitária porque meia dúzia de indivíduos acreditou e em ajudou. No final, obtive a maior votação até então conhecida na história da cidade.

Ao longo de 4 anos fiz o que todo vereador deveria fazer: propus leis e fiscalizei o uso do patrimônio público. Reuni muitos inimigos.
O atual prefeito e seu séquito, que administrava (e ainda administra) como se os recursos públicos e os servidores fossem propriedade privada sua.
Para tristeza de muitos, ele não foi preso nem cassado. Mas levará como herança meia dúzia de inquéritos policiais, e pelo menos 10 processos por improbidade, além de alguns processos administrativos que tramitam no TCU e no TCE/MG. Em janeiro, perdido o foro privilegiado, o MP deverá também propor algumas ações penais contra ele.

Confiamos que a maioria desses inquéritos e processos esultará em punição, ainda que muito tardia e sem possibilidade de recuperar o patrimônio extraviado e dilapidado.

Em outubro voltei às urnas na mesma campanha quixotesca. Gastei R$ 60 do meu bolso e mais uns R$ 15 mil dos bolsos de parentes. Enfrentei 4 adversários, todos calçados nos grupos tradicionais: políticos, empresários e administração atual. Essa, como de costume, fez pesado uso da máquina.

Mudei a forma de fazer campanha. Contra todas as evidências e costumes, não coloquei carro de som fazendo barulho nas ruas. Não fiz nenhum cavalete, não aluguei pessoas para passearem com bandeiras, não fiz carreatas, não distribui gasolina, não paguei para pessoas colocarem adesivos nos carros ou colocarem placas em suas casas e jardins. Tampouco paguei pessoas para distriburem santinhos de porta em porta, sujando alpendres e enchendo caixas de correio.

Usei o programa de rádio no horário gratuito. Cuidar de apresentar meus projetos sem agredir nenhum dos meus 4 adversários. Usei a Internet, que não me custou nada a não ser tempo. Tempo e paciência para tolerar as agressões gratuitas. Tempo e disposição para responder às perguntas e dúvidas que cresciam ao longo da campanha.

Também usei a proverbial sola de sapato e a saliva. Percorri todas as ruas da cidade. Mais de 200 km. Bati de porta em porta e conversei com quem quis conversar.
A quem aceitou, entreguei um boletim de campanha urdido e editado em casa, nas altas horas da noite. Meu maior luxo – o único luxo da campanha – foi imprimir o boletim em papel de excelente qualidade, com excelente acabamento. Nisso gastei o maior volume de dinheiro.

No final, dias antes da eleição um candidato desistiu e juntou-se a outro. Então chegamos quatro às urnas. Três forças dominantes contra o candidato sem eira nem beira que andava a pé e levava jornais na mochila, desafiando concorrentes tinham helicóptero, avião, caminhonetes 4 x 4 e carros de luxo às mancheias. Candidatos que diziam reunir 400 carros de luxo numa carreata que passeava pela cidade inteira, buzinando, agitando balões e soltando fogos de artifício.

Nossa campanha de pés no chão ganhou com quase 2000 votos de frente, ou mais de 30% dos votos. Um espetáculo, considerando haverem quatro candidatos e um desistente cujo nome ainda constava das urnas.

O segredo foi simples, pois constituiu-se em olhar o eleitor nos olhos e dizer, com o palavreado adequado a cada caso: "na minha administração o patrimônio público não será desperdiçado, malversado ou roubado."

Receberei uma prefeitura que sofreu uma razia. Finanças arruinadas com dívidas enormes, arrecadação desmantelada, frota sucateada, restos a pagar impagáveis...
Sem contar os furtos de final de mandato, que incluem televisores, rádios, computadores, telefones, e todo objeto que um ou outro agente, na certeza do descontrole e da impunidade, ache conveniente levar para casa.

Mas isso não me assusta ou amedronta. Acredito no poder saneador da probidade e da ética do trabalho.

Agora, faltando menos de duas semanas para a posse, é isso que quero compartilhar com meus colegas do TCU: a satisfação de ver que pelo menos algumas vezes a conversa honesta, precedida ou acompanhada de ações honestas, ganha a confiança e o voto do eleitor e nos dá uma oportunidade de acreditar outra vez na política.

Estão todos convidados a acompanharem o meu mandato. Tenho certeza de que, daqui a dois ou três anos, cada um de vocês poderá dizer com convicção e conhecimento próprio, que viu um prefeito trabalhar da forma que todo político deveria trabalhar: com transparência, eficiência e respeito pela coisa pública. Não se pode esperar menos do que isso de servidor que respeita e honra o cargo que tem no TCU.

Um abraço a todos.

- Fernando

PS - Trata-se da prefeitura de Bom Despacho-MG.

Um comentário:

  1. isso sim é exemplo de seriedade e de pessoas que nosso país precisa para dar um salto de desenvolvimento em qualidade de vida em todas as áreas. é como deve ser!!! Glória a Deus podermos ver ainda exemplos assim, onde a vontade d povo vence qualquer obstáculo.

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