O
Resultado é de um estudo realizado pela ONG Transparência Brasil
A Transparência Brasil comparou o orçamento do
Congresso Nacional brasileiro com os da Alemanha, Argentina, Canadá, Chile, Espanha,
Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Itália, México e Portugal.
Com um orçamento de R$ 6.068.072.181,00 para 2007,
o Congresso brasileiro (compreendendo Câmara dos Deputados e Senado Federal)
gasta R$ 11.545,04 por minuto. Só é superado pelo dos Estados Unidos, sendo
quase o triplo do orçamento da Assembléia Nacional francesa. O mandato de cada
um dos 513 deputados federais custa R$ 6,6 milhões por ano.
No Senado, o mandato de cada um de seus 81
integrantes custa quase cinco vezes mais, R$ 33,1 milhões por ano. Da
comparação entre os países resulta que, levando-se em conta os seus diferentes
níveis de riqueza, tanto em termos da renda per capita quanto do nível do
salário mínimo o Brasil é, entre os estudados, aquele em que o Congresso mais
onera o cidadão.
De modo a avaliar como o Brasil se situaria na
comparação com outros países caso a representação parlamentar fosse unicameral,
os cálculos deste estudo incluíram a hipótese de o Senado não existir. Ainda
assim, o custo da Câmara ainda pesa mais sobre o cidadão do que os Parlamentos
de outros países.
A média do custo por parlamentar dos Legislativos
europeus mais o Canadá¹ é de cerca de R$ 2,4 milhões por ano. No Brasil, são R$
10 milhões. Imaginando-se que o Congresso Nacional mantivesse o mesmo orçamento
que tem hoje, mas distribuído por uma quantidade de parlamentares tal que o
custo de cada mandato fosse compatível com o europeu, a instituição teria 2556
integrantes. Número semelhante é atingido a partir da população média
representada pelos parlamentares de cada país.² A média Europa-Canadá é de 82
mil pessoas por parlamentar. A do Brasil é de pouco mais de 314 mil. Aplicando
a média Europa-Canadá à população brasileira, chega-se a 2276 parlamentares.
Isso significa que, à parte desproporções relativas
à renda da população, o orçamento atual do Congresso Nacional deveria ser capaz
de suportar mais de 2000 parlamentares, cada qual representando uma parcela da
população semelhante à que representam os integrantes das Casas legislativas
dos países desenvolvidos.
Não apenas as estruturas de apoio ao Parlamento
brasileiro são excessivamente onerosas como também é descabido o montante que
cada parlamentar consome diretamente. Embora o presente estudo não tenha
chegado ao nível dos custos diretos incorridos pelos integrantes dos
Legislativos dos países incluídos no levantamento, uma comparação basta para
ilustrar o enorme descompasso do Parlamento brasileiro no confronto com outros
países: antes do aumento de cerca de 28% que os parlamentares brasileiros recentemente
se autoconferiram, cada integrante da Câmara dos Deputados gastava R$ 101 mil
por mês, entre salário, auxílios diversos, salários de “assessores de gabinete”
(na verdade cabos eleitorais, que podem chegar ao número de 18 por deputado) e
verba indenizatória (um estipêndio fixo que o parlamentar pode usar para pagar
gasolina, aluguel de comitê em seu estado e outras despesas).
Para comparação, o custo direto de cada membro da
Câmara dos Comuns britânica (incluindo, como na Câmara brasileira, salário,
auxílios diversos e estipêndios pagos a assessores de gabinete) é de 168 mil
libras por ano.3 Ao câmbio de 3,78 reais por libra, isso corresponde a pouco
mais de R$ 600 mil por ano. Ou seja, cada deputado federal brasileiro consome
mais do que o dobro de um parlamentar britânico – o qual vive num país em que a
renda per capita e o custo de vida são muito superiores aos do Brasil.
Como, no Brasil, os salários pagos a deputados
estaduais são calculados à base de 75% dos salários dos deputados federais, como
os salários de vereadores de localidades populosas por sua vez obedecem à mesma
proporção em relação aos deputados estaduais, e como tanto no nível estadual
quanto no municipal os integrantes do Legislativo gozam de privilégios
financeiros semelhantes aos da Câmara dos Deputados (não raro ainda mais
generosos), pode-se concluir que um vereador de capital estadual custa mais do
que um integrante da Casa dos Comuns britânica.
Estudo anterior da Transparência Brasil exibiu as
inexplicáveis disparidades entre os orçamentos legislativos nos estados e
municípios. O presente levantamento reforça a percepção de que os integrantes
das Casas legislativas brasileiras perderam a noção de proporção entre o que
fazem e o país em que vivem.
Tudo isso só colabora para o desgaste da
representatividade política, ao que se soma a perda de prestígio da atividade
parlamentar derivada do repetido envolvimento de políticos em escândalos de
corrupção. Estatísticas levantadas no âmbito do projeto Excelências, da
Transparência Brasil, dão conta de que nada menos de 165 deputados federais
(32% do total de 513 membros da Casa) e de 30 senadores (37% dos 81 senadores)
respondem na Justiça (em segunda instância ou nos Tribunais Superiores,
portanto já condenados em primeira instância) por crimes contra a administração
pública ou o processo eleitoral³ ou foram multados por Tribunais de Contas por
infrações diversas quando no exercício de funções executivas. Na Assembléia
Legislativa de São Paulo eles são 39% (37 entre 94 deputados) e na de Minas
Gerais, 19% (15 entre 77).
A responsabilidade por esse estado de coisas cabe
em primeiro lugar aos partidos políticos, que poderiam simplesmente recusar
legenda a indivíduos condenados por crimes, mesmo que ainda não transitado em
julgado. Os partidos, porém, eximem-se de exercer esse dever.
A tal permissividade une-se a relutância dos
políticos em agir decisivamente para combater a invasão do espaço parlamentar
por interesses escusos – como se tem demonstrado na forma como o Senado Federal
insiste em manter em sua Presidência um senador contra o qual pesa a acusação
de se ter beneficiado dos favores de uma empresa privada.
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